sábado, 15 de outubro de 2011

18/07/1916



Nessa velha carta escrevo-te na esperança de que quando leias sinta-me no presente. Vivemos em tempos imorais, espero que hoje entendas isso.
Essa saudade atormenta a minha caneta e faz com que o papel rasgue de tão forte que te descrevo o meu amor. Imagino-me calada qual o som da sua voz, tempos cruéis me fizeram esquecer-se do seu olhar, me permito imaginar olhares que sejam tão apetitosos como os seus lábios. Escrevo-o essa carta tão triste que mal enxergo o papel sujo de tão reescrito que haverá sido. Sinto falta do seu casaco e do seu chapéu pendurados na entrada da minha porta, eu adoro o cheiro que a casa fica quando você vai embora... A falta que você faz é ironicamente notada devido ao meu silenciar constante. Eu notei e eu senti, sim! Eu senti, seus sentimentos foram correspondidos, dividirás comigo sua gloria. Naquele dia voltei para casa frustrada, com tanto ódio, eu só queria sentar e esperar que gentilmente a morte viesse me abraçar com seu consolo. Diversas vezes pensei que a distância ajudaria a esquecê-lo, mas esqueci que a saudade fazia lembrá-lo cada vez mais.
Já passou um bom tempo que tudo acabou, você mal deve se lembrar de mim. Amor, eu não sou mais linda como antes, minha pele cansou-se e agora dorme suavemente sobre os meus frágeis ossos, meu olhar cansado demonstra futilmente minha vida iludida. Aprendi a amar outras pessoas, que me ofereceram novas alegrias, filhos, netos... Não há um dia que eu durma sem pensar como seria se você estivesse ao meu lado. Eu só queria lembrar como é amar de verdade. Tolice, essa carta mal sairá da gaveta, assim como todas as outras.